quarta-feira, 6 de julho de 2011

Conservadorismo com Relevância Política

Existe pensamento conservador no mundo. Vibrante, atual e com grande representatividade eleitoral, as ideologias de direita, centro-direita ou conservadoras, dependendo de como se queira chamar o pensamento político que defende os valores da família, dos direitos e liberdades individuais, da economia de mercado  e do Estado Democrático de Direito, por exemplo, têm mantido sua importância em todo o mundo desenvolvido. Como diretor acadêmico da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública, pude verificar pessoalmente tal realidade em recente missão ao continente europeu - mais especificamente, a Portugal, Espanha e Itália.

No Brasil o termo conservador assumiu uma conotação pejorativa. Conservador tornou-se sinônimo de retrógrado, defensor da manutenção de privilégios e do status quo. Nada mais longe da realidade: o verdadeiro conservador é aquele que preserva as conquistas do progresso humano, que incluem alguns dos mais basilares direitos do cidadão. Conservador é quem também defende avanços nestas conquistas e busca aprimorá-las, sempre respeitando os direitos individuais e as liberdades fundamentais.

Na Europa, pudemos perceber um movimento conservador muito ativo, seja no sistema bipartidário espanhol, ou nos sistemas multipartidários português e italiano. Na Espanha, o Partido Popular (PP) e o Partido Socialista Trabalhador (PSOE) são as principais forças políticas. Atualmente no poder, o Partido Socialista comanda um país em crise econômica aguda e tem poucas perspectivas de vitória eleitoral nas próximas eleições, marcadas para 2012. Com quase 20 pontos de vantagem nas pesquisas, o PP de Mariano Rajoy estima voltar ao governo espanhol para dar seguimento ao Governo de José María Aznar, que deixou o poder em 2003. Aznar comanda hoje a Fundação para Análises e Estudos Políticos (FAES), vinculada ao PP Espanhol e responsável pela formação de quadros do partido.

Em Portugal, também um Partido Socialista comanda o poder Executivo. Da mesma forma que o espanhol, o sistema português de governo é o parlamentarismo, com a diferença de que o chefe de Estado em Portugal é o Presidente (Cavaco Silva) e na Espanha, o Rei (Juan Carlos). Também em Portugal, a economia encontra-se em severa crise e o governo já pediu socorro à União Europeia. Poucos dias antes de nossa visita ao país, o governo do primeiro-ministro socialista José Sócrates anunciava sua demissão, e novas eleições foram chamadas para o próximo mês de junho. Do lado conservador, disputa a preferência do eleitorado o PSD (Partido Social Democrata) com seu líder Pedro Passos Coelho. Semelhantemente ao caso espanhol, os conservadores portugueses estão a frente nas pesquisas e esperam consolidar a transição de governos já no próximo mês.

Por fim, a Itália vive um momento de crise política permanente. Desta vez, são as acusações que pesam sobre o primeiro ministro Sílvio Berlusconi que prosperam na mídia internacional quando refere-se a política em Roma. O Partido de Berlusconi, Il Popolo della Libertà, é o principal partido conservador do país e tem uma ampla rede de fundações e institutos relacionados que responsabilizam-se pela formação de seus quadros (conversamos no país com Nicolà Formichella, representante do Partido para a formação e interlocução com tais fundações e institutos). Altamente descentralizado e fragmentado, o sistema político italiano acaba por marginalizar internamente as discussões sobre a conduta de Berlusconi que, aos olhos do mundo, parecem tomar a agenda política do país. Em virtude dos recentes levantes nos países do Norte da África, em especial da Líbia, que está separada da Itália apenas pelo Mar Mediterrâneo, a Câmara dos Deputados está muito mais preocupada em garantir a segurança dos seus cidadãos e em evitar a imigração em massa de refugiados da Líbia e da Tunísia.

A visita aos três países mencionados e às lideranças políticas conservadoras demonstrou que a ideologia do nosso Partido Progressista brasileiro continua muito atual. No Brasil, apesar de o establishment político buscar incessantemente classificar erradamente toda ideia conservadora ou de direita anacrônica e equivocada, encontramos em nossa sociedade um grande respaldo à ideologia e postura conservadora. Buscar exemplos no exterior do sucesso que partidos políticos estão tendo em apresentar com clareza e correção tais ideias a sociedade e como elas estão resultando em vitórias eleitorais é da maior importância, sobretudo neste momento de grave relativismo moral predominante e da crise dos valores e princípios que sempre sustentaram as democracias ocidentais e que hoje encontram-se sob forte ataque.

Marcel van Hattem
Diretor Acadêmico da FTD
+55.51.8121.1122 | +55.51.9611.1111
blog.marcelvanhattem.com

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